Revisitar para Lembrar o Dia da Liberdade
[Lembrar o dia da Liberdade / BESAF 2013]
Hoje comemora-se uma data importante no quadro da nossa história recente. 39 anos passaram sobre esse "dia inicial inteiro e limpo / onde emergimos da noite e do silêncio" (na palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen). Foi o princípio da recuperação das liberdades fundamentais, da redescoberta de direitos inalienáveis, da assunção da democracia como melhor regime de governação (não obstante as suas fragilidades), da via aberta para a participação cidadã. Foi a revolução que Abril trouxe, porque muito mudou na sociedade portuguesa desde então. Nas palavras de abertura da celebração do Dia da Liberdade, que desde há vários anos levamos a cabo na biblioteca escolar da ESAF, com a presença de um "capitão de abril" (profícua colaboração da Associação 25 de Abril para connosco), referimos, aos muitos alunos presentes, que se recuássemos 40 anos, não teríamos a oportunidade de nos reunirmos assim e falarmos sobre valores democráticos como a liberdade, a solidariedade, a participação cívica... Há 40 anos muitos dos que ali se encontravam estariam com certeza destinados a uma inserção precoce na vida do trabalho e sem possibilidades social e economicamente sustentadas de continuar estudos. E lembrar isto não é meramente um exercício de imaginação retórica, é sensibilizar para a importância dos valores democráticos; sensibilizar os jovens, que nasceram bem depois do 25 de abril de 1974, para o conhecimento de factos importantes da história do seu país, pois ninguém constrói o futuro (e eles são e serão parte ativa nesse processo) sem o conhecimento do que fomos e do que somos... projetando-nos.
E isto é literacia, condição essencial da cidadania; e a promoção das literacias é apanágio das bibliotecas, esses espaços de liberdade.
Assim aconteceu, na passada terça-feira, a Biblioteca da ESAF revisitou para lembrar, revisitou para sensibilizar, revisitou para mostrar que a democracia e os valores a ela associados são um bem precioso que importa sempre e sempre acarinhar. Cá recebemos um dos "capitães de abril", militar que também fez parte desse movimento, o coronel Bacelar Ferreira; militar que no Norte desempenhou o seu papel, a par de tantos outros seus colegas (em diferentes pontos do país) que arriscaram pela mudança de um sistema que já não era defensável; mudança essa que haveria de conduzir à instauração de um regime democrático no nosso país.
Logo a abrir a sessão a professora Marieta, colaboradora da biblioteca, fez a leitura expressiva do conto de Manuel António Pina, O Tesouro, a bela história (a que já fizemos referência antes) que nos fala do "país das pessoas tristes", das pessoas que desconheciam a liberdade, e esse país era Portugal. A mensagem que passamos é de que não queremos um país de pessoas tristes, antes um país que acredite em si e no futuro. Seguidamente, o coronel Bacelar Ferreira conversou com os jovens, respondeu a perguntas, lembrou os acontecimentos da altura, não deixando por satisfazer a curiosidade de alguns alunos que o questionaram sobre detalhes do que aconteceu naquele dia histórico. Falou-se da guerra colonial, dos preparativos da rebelião militar, do quadro histórico, social, económico e político da altura, da intensa sensação de liberdade (de pensamento, de expressão, de movimento) sentida pelas pessoas, do papel do povo no apoio ao movimento em marcha, do direito ao voto, da expansão da escola a todos os cidadãos, de tantos outros aspetos que hoje nos podem passar despercebidos (mesmo àqueles que viveram aqueles acontecimentos). Por isso é importante revisitar para lembrar, sensibilizar, consciencializar, para a importância da democracia e, no mesmo passo, para o valor que lhe devemos dar preservando-a.