O corpo da escrita [ou de como se pode animar uma oficina de escrita criativa]
E agora... algo de completamente diferente! Poderia ter sido este o mote para aqueles noventa minutos de devaneio e relaxamento, em sintonia com a imaginação libertadora e o poder da expressão automática, ao sabor da sensibilidade e não tanto da racionalidade discursiva e ordenadora.
E, de certo modo, foi isso mesmo que hoje, pelo miolo da tarde, aconteceu na sala de leitura da biblioteca da escola - uma breve mas significante quebra da rotina, com imersão no espaço da escrita, mas também da leitura, da imaginação criadora e livre, mesmo que suscitada por pequenos mas interpelantes desafios. Os desafios que o jornalista e poeta Alberto Serra veio propor a uma turma de Artes da nossa escola. Afinal, os desafios de uma inusitada oficina de escrita que, para além de envolver o essencial - pessoas e animador -, requereu também as incontornáveis folhas de papel em branco, canetas e lápis, a música e a voz de Maria Bethânia em "Sonho Impossível", e ainda almofadas e mantas pelo chão.
E assim, como diria Pessoa, "primeiro estranha-se, depois entranha-se", lá se viu aquele grupo de alunos, não em carteiras perfilado, mas sob o chão estendido, tendo, ao alto, como companheiros, os amigos livros e a voz de Alberto Serra a dizer-lhes ao que vinham mas não para onde iam. Dar livre rédea ao espírito, sem a coação da lógica nem tão pouco o temor do subconsciente, antes a liberdade da imaginação criadora e, dando-lhe expressão, o livre automatismo da escrita.
E dessa experiência nasceram textos, textos que foram ditos, e desses textos ficou, com certeza, a sensação de que importa exercitar a escrita, como se de algo de orgânico se tratasse.
[Gratos ao Alberto Serra pela partilha e orientação destas oficinas de escrita criativa; gratos ao Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares de Barcelos, pela oportunidade concedida].