22-10-2012 22:01
Se alguém lhe dissesse, assim sem mais, que um em cada cinco jovens de 15 anos e quase um em cada cinco adultos europeus tem dificuldade em ler o mundo, ou dito cruamente "não tem as competências necessárias para funcionar, com sucesso, numa sociedade moderna"... talvez estranhe e pergunte se não há algum equívoco em tal afirmação; ou talvez, ainda, lhe ocorra pensar que esse é um problema de países em desenvolvimento, mas não de países da União Europeia.
Segundo as conclusões de um relatório sobre (i)literacia recém publicado, intitulado: "Aja agora mesmo!", da autoria de um grupo de especialistas liderados pela princesa Laurentien, da Holanda, uma das principais conclusões que fazem soar o alarme prende-se com os problemas de iliteracia funcional, associada a baixos desempenhos na leitura e na escrita, revelados pelos europeus. Ressalta da leitura dessas conclusões, a que chegaram os investigadores, a ideia de que há uma série de conceitos errados ou mitos que urge re-analisar e sobretudo desmistificar, preparando-nos para ações mais incisivas neste domínio.
Os apelos tendentes ao incremento das ambições nesta matéria, por parte dos decisores europeus, perpassa nas páginas do relatório síntese produzido (consulte aqui): "A Europa deve aumentar as suas ambições, visando a literacia funcional para todos os cidadãos. Isto significa empenhar-se numa visão em que tudo o que seja inferior a 100 % de literacia funcional é inaceitável. Os governos, as escolas, as entidades patronais e as organizações não-governamentais (ONG) devem empenhar-se em atingir este objectivo." (Aja agora mesmo, 2012: p.7).
Vale a pena chamar à colação, sempre e sempre, o papel dasBibliotecas Escolares (e, naturalmente, também das Públicas) no que concerne às soluções para este problema. Elas fazem parte, incontornável, da solução do problema.
Quem disse que as bibliotecas, bibliotecários e professores bibliotecários, estão a ser substituídos pelos motores de busca ou pelo vasto mundo da Net? Não se apresse nos vaticínios futuristas, a não ser que queira ignorar o acesso a uma informação criteriosamente validada, ao processamento crítico e reflexivo da informação, orientado para a assunção significante de conhecimento e, por conseguinte, de formação. Não que não seja importante essa poderosa rede a que acedemos todos os dias. De facto, as competências em literacia da informação, por exemplo (mas há outras), são de tal ordem importantes que deveriam marcar quotidianamente a agenda de todos quantos trabalham em educação, para que não se diga a jusante que estamos face a uma geração do "corta, copia e cola". Conhecemos uma escola cujo Projeto Educativo inclui, no seu corpus de problemáticas e objetivos a atingir, a aposta nas Literacias (alguns dos leitores deste post não terão dificuldades em identificá-la); uma boa prática, e que é profícua, pois desde logo tem consciência do problema e têm-no assumido. Não pode é baixar a guarda, pois esta é uma tarefa incessante.
Para terminar, voltando às fontes, fica uma sugestão: vale de todo a pena (re)visitar o artigo do Público, publicado no dia 15 deste mês, da autoria de Rita Pimenta, com o sugestivo título: "Há uma princesa preocupada com a iliteracia", ou aceder ao relatório síntese sobre iliteracia na U.E. (aqui ou aqui). /