Ecos de uma palestra sobre Utopia, Crise e Educação na sala de leitura da BESAF

28-02-2013 15:30

 

Para quem pensa que a Utopia não passa de vã fantasia, teria ontem uma excelente oportunidade para se desenganar acerca de tão apressado juízo, se tivesse ouvido e seguido a palestra que Fátima Vieira pronunciou na biblioteca escolar da ESAF. 

Ontem (28/02), quando fevereiro chegava ao seu ocaso e a luminosidade da tarde atravessava a sala de leitura da BESAF, conferindo-lhe um ambiente muito especial, Fátima Vieira, Professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, especialista e investigadora nos domínios do pensamento utópico, prendeu, com um discurso envolvente e uma magnífica abordagem, a audiência de estudantes e professores que enchia por completo aquela sala de leitura e o mezanino. Utopia, Crise e Educação foi o mote para um momento intelectualmente estimulante, uma palestra envolvente sobre a utopia como força catalisadora, tensão positiva e criativa, capaz de levar as pessoas à ação e à transformação. 

Mais de uma centena de jovens do ensino secundário, vários professores e convidados do meio envolvente, tiveram a oportunidade de ouvir falar de Utopia e pensamento utópico: o que é? para que serve? visão utópica vs. visão reformadora; utopia como via de pensamento crítico-utópico; questionamento sobre onde queremos chegar? Utopia, não como o caminho, mas como "diferentes possíveis caminhos"; Utopia como espaço de desejo, de múltiplas alternativas, de um mundo plural, frente à pobreza das visões monolíticas. 

A oradora, na sua abrangente viagem, da antiguidade à actualidade, convocou Platão, S. Agostinho, incontornavelmente Thomas More (o criador da palavra Utopia e de um clássico com o mesmo título), Bacon, entre outros clássicos, mas também Eduardo Galeano e o para nós fundamental Gonçalo M. Tavares (sim, um dos autores que por esta sala já passou); falou de Vasco de Quiroga e sua experiência utópica/distópica no México da hispanização; e, não, não esqueceu, a vertigem das utopias, que na ânsia da sua concretização, rapidamente se transformaram em distopias a evitar ... cruzou o seu pensamento com o dos clássicos, observou a "realidade pelo canto do olho", citando Tavares; dissertou sobre os desafios de hoje e a premência de olharmos o futuro sob outros prismas, com criatividade, mas sem deixarmos de ser activos, questionadores, indagantes, críticos... Abordou ainda a escola e a educação como espaços de utopia, espaços para a enunciação do desejo utópico; mas também os modos de vida e as transformações que devem partir de baixo, do indivíduo, pela sua ação cívica...

A palestrante prendeu,  implicou, mostrou como nestes momentos (em que da formalidade da sala de aula se passa à informalidade de um outro contexto, o de uma biblioteca, por exemplo) também acontece partilha de conhecimento, partilha de ideias, numa palavra, educação para a cidadania. Afinal aquilo que a iniciativa Quint`Ethos também proclama nas abordagens que faz.

Memorável sessão.